A forma de ensinar ciências (didática) tem apresentado diversas dificuldades nos últimos anos, entre elas podemos citar o alto nível de exigência formal nos conteúdos, a influência dos conhecimentos prévios e as concepções do aluno, situações que dificultam um ensinamento correto e até mesmo sua dinâmica, porque muitos alunos acreditam que, para saber algum determinado assunto, devem “saber a fórmula” ou decorar um conceito. Hoje, esse tipo de concepção surge como um obstáculo na apreensão e no entendimento do assunto em questão.
Ao mesmo tempo em que a utilização de conhecimentos prévios, por exemplo, não é de todo errônea, pelo contrário, em muitos casos elas auxiliam os alunos na análise de problemas científicos, isto é, aplicando tais problemas no seu cotidiano.
Frente a isso, foram feitas investigações pelos autores desse artigo e relatadas algumas situações:
* Os alunos que estão aprendendo ciências apresentam limitações na compreensão de assuntos, isto é, nem sempre são capazes de entender o que lhes foi ensinado. Dessa forma, se nem eles são conscientes que estão mantendo concepções, conteúdos, conceitos errados como que os professores poderão ensiná-los?
* Frente a essa dúvida, nota-se que o erro pode (e deve, em muitos casos) estar relacionado ao professor, ou seja, as estratégias “clássicas” de aprendizagem podem ser ineficazes ou até mesmo falidas. A aprendizagem pela transmissão é uma dessas “estratégias clássicas”, no qual, é baseada em conceitos absurdos como: ensinar é uma tarefa fácil e se reduz a uma simples transmissão de conhecimento e que se, de alguma maneira, o aluno não foi feliz no seu aprendizado a culpa é dele, pela sua falta de capacidade, de esforço.
Hoje, esse tipo de didática é completamente criticada e combatida pelos profissionais da área educacional. Uma vez descartada essa “didática” (se é que pode ser chamada assim), pode-se analisar as teorias e os processos de ensinamento/aprendizagem a partir de outro foco.
As teorias sobre o “ensinar ciências” são diversas entre as quais, comentarei sobre algumas delas:
Aprendizagem pelo descobrimento: é fundamentada em Piaget. Enfatiza a participação efetiva do aluno na aprendizagem e na aplicação dos processos da ciência. Dessa forma, o aluno seria capaz de criar uma situação-problema e de resolvê-la, criando um maior interesse e motivação no assunto. Porém, esse tipo de aprendizagem apresenta limitações. Há uma atenção escassa aos conteúdos concretos que o aluno deve aprender, ou seja, deixa a teoria como um assunto secundário. Caso o aluno tenha um conhecimento prévio errôneo sobre um determinado assunto, ele reforça essa idéia. Muitas hipóteses formuladas são baseadas apenas na observação, sendo exclusivamente indutivas. Esse tipo de aprendizagem é uma das mais comentadas pelos professores, isto é, quando citam que as atividades práticas estimulam os alunos, que eles preferem colocar “a mão na massa”, etc.
Aprendizagem baseada em construção/resolução de problemas: no ensino superior, esse tipo de aprendizagem é a mais comum. Os universitários ganham uma maior autonomia e aprendem a se “virar sozinho” com uma maior frequência (mesmo tendo a orientação de um professor), conseguindo, dessa forma, uma aprendizagem mais significativa e auto-suficiente. Portanto, o aluno fica mais motivado – conforme for o seu grau de interesse, maiores podem ser os seus resultados, E, além disso, esse exercício de criar/resolver um problema é muito aplicável na vida dos estudantes, porque, com certeza, essa problematização, será utilizada pelos mesmos quando forem exercer suas profissões.
Ao mesmo tempo, esse tipo de aprendizagem exige uma maior atenção dos professores, porque mesmo os alunos estando mais independentes (na pesquisa em si), necessitam de um direcionamento e quem faz isso é o próprio professor. Consequentemente, se o mesmo não direcionar de forma adequada o seu orientado, todo o trabalho pode ser inútil.
Aprendizagem construtivista: a aprendizagem seria baseada numa “mudança conceitual”, no qual, os alunos constroem uma concepção do mundo, cercados de uma concepção científica. Nesse tipo de aprendizagem alunos e professores trabalham juntos. Enquanto os professores animam seus alunos a expressarem suas idéias e seus ideais, os alunos responderiam à altura, explicitando seus pensamentos nos debates, seriam críticos e conscientes no que argumentam, apoiariam um tema e o defenderiam, entre outros..
Em relação à aprendizagem em ciências, um dos maiores problemas está no grande abismo que existe entre as situações de ensinamento/aprendizagem e a maneira em que se constrói o conhecimento científico. Para tentar resolver esse tipo de problema, foram criadas estratégias:
1. Criação de situações problema;
2. Os alunos teriam q eu trabalhar em grupo e juntos, tentar resolver os problemas criados;
3. Os problemas seriam construídos a partir de uma orientação científica, com a criação de hipóteses;
4. Elaboração de estratégias e possíveis soluções;
5. Comparação dos resultados com os outros grupos de alunos;
6. Os novos conhecimentos adquiridos seriam aprofundados e nessa hora é o período mais indicado para ocorrer às relações mais explícitas com a ciência, a tecnologia e a sociedade;
Hoje em dia, o tipo de aprendizagem mais utilizado pelos professores da área de ciências é a construtivista (que segundo alguns autores), tem-se mostrado uma teoria coerente e fundamentada, todavia, não pode ser considerada um paradigma dominante e único, que acaba excluindo as demais teorias. Não é porque ela é a mais bem aceita que está isenta de problemas, pelo contrário, na sua aplicação prática são encontradas as maiores dificuldades, dentre as quais, as a capacidade de investigação dos alunos.
Somado a tudo que foi dito anteriormente, ainda há o ensino de ciências segundo a teoria Cognitiva e Metacognitiva. Para muitos autores (Linda Barker, Carter e Simpson, Resnick, etc) o desenvolvimento dos alunos na área das ciências, ocorre através da capacidade de observação, classificação, medição, descrição, elaboração de modelos, levantamento de hipóteses obtenção de conclusões, entre outras. Situações que estão ligadas, paralelamente, à metacognição. Porém, há uma grande escassez na produção de idéias e métodos de aprendizagem baseados nesse método, mesmo que já se saiba a sua importância na educação das crianças.
Contudo, não basta só estar atento às teorias e ao método para uma aprendizagem satisfatória. Uma das ações mais importantes no processo ensino/aprendizagem, é a montagem de uma aula, seja ela teórica, seja ela prática. Sua primeira “obrigatoriedade” é: a aula deve ser clara e explicita. Para isso, os professores precisam separar os conteúdos, organiza-los e seqüência-los de maneira coesa, ou seja, deve haver uma seqüência de análise científica, didática, uma seleção de objetivos e estratégias. E principalmente, se uma dada forma de preparação de aula não funcionar, o professor tem que estar aberto à mudança: deve tentar, de alguma forma, melhorar a preparação da sua aula.
Percebe-se então que, para uma boa aprendizagem, necessita-se de um bom ensinamento. E ambos caminham de mãos dadas e são dependentes um do outro. Porém, para poder conquistar um método de ensino, faz-se necessário tempo. Tempo para achar uma teoria adequada, para colocá-la em prática, para ver a aceitação dos professores e alunos. E tempo para se, ela estiver errada, que possa ser substituída por outra, que passará pelo mesmo processo de “aceitação”.
Por: Tamara do Prado Verotti